terça-feira, 7 de dezembro de 2010

TCC

Ah voltei a ler como bíblia. "Grande Sertão: Veredas".


"Diadorim pôs muito os olhos em mim, vi que com um espanto reprovador, não me achasse capaz de estipular tanta maldade sem escrúpulo. Mau não sou. Cobra? _ele disse? Nem cobra serpente maligna não é. Nasci devagar. Sou muito cauteloso.[...]

Mais em paz, comigo mais, Diadorim foi me desenfluindo. Ao que eu ainda não tinha prazo para entender o uso, que eu desconfiava de minha boca e da água e do copo, e que não sei em que mundo-de-lua eu entrava nas minhas idéias. [...]

[...] Digo ao senhor: nem em Diadorim mesmo eu não firmava, o pensar. Naqueles dias, então, eu não gostava dele? Em pardo. Gostava e não gostava. Sei, sei que, no meu, eu gostava, permanecente. Mas a natureza da gente é muito segundas-e-sábados. Tem dia e tem noite, versáveis, em amizade de amor.
Antes o que me atazanava, a mór _ disso crio razoável lembrança _ era o significado que eu não achava lá, no meio onde eu estava obrigado, naquele grau de gente. Mesmo repensando as palavras de Diadorim, eu apurava ó este resto: que tudo era falso viver, deslealdades. Traição? Traição minha, fosse no que fosse. Quase tudo o que a gente faz ou deixa de fazer, não é, no fim, traição? Há-de-o, a alguém, a alguma coisa. E eu não tardei no meu querer: lá eu não podia mais ficar. Donde eu tinha vindo para ali, e por que causa, e, sem paga de prêço, me sujeitava àquilo? Eu ia-me embora. Tinha de ir embora. Estava arriscando a minha vida, estragando a minha mocidade. Sem rumo. Só Diadorim. Quem era pra mim Diadorim? Não era, aquela ocasião. Pelo próprio dito de estar perto dele, de conversar e mais ver. Mas era por não aguentar o ser: se de repente tivesse de ficar separado dele, pelo nunca mais. [...]"

Guimarães Rosa, pg.180-181.



Não fale do que você nem tem como saber.
Tem correspondência que só chega quando chega ... quando dá pra chegar.

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