segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O som da madeira d´agua

Desejei tanto parar.Eu pedia e me desesperava para que passasse. Não aguentava mais. Topada de dedinho na porta todos os dias. Dedo de pimenta no olho e nó de esôfago. Todo dia, todos os dias.Desejei tanto que vivi para isso. Para que parasse,para que não fosse centro,para que não fosse tudo,para que saisse de dentro.  
Eu queria tomar de gole pra passar mais rápido.E desejei tanto que esqueci de reparar que mesmo não sendo brando tudo passava o tempo todo. As unhas cravadas no chão me deixavam rastros, que ardiam mas, nem mesmo isso mais eu reparei. Era tanto desejo que para cada buraco nesse asfalto a patrola era anestésica. E tudo ficou liso, de um piche preto. Sem graça e quente. Tudo aprisionado feito magma. E eu desejei explodir, eu só quis expulsar. Eu queria acabar, não caber. Ser gás, ser a expansão. Mas eu passei tanto, tanto que não reparei que de tanto pedir pra sair, eu mesma não fiquei. Fui carpideira precipitada de um enterro de morte agoniada. De vontade específica e sem ponteiro na bússola. Aí foi pior que a dor, porque era tão lisa que só tinha fome. Só me harmonizei com as pontas de faca cega, em que jogava meus dedos com força esperando a ferida que é claro, eu sabia que não ia vir. 
Vivi para me machucar, porque quando machucada eu desejei passar. E agora passada, eu tenho que ter  cuidado com  que desejar. Lisa, lesa e solta. Eu consegui passar. Lisa, lesa e oca: é não ter para onde voltar. 





Laís Castro

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Girar a Vida


Que Ele estava certo.
Acaba em rima
mil tormentos
nada acima
e por fim resta-nos obrigar o tempo a ser nossa última verdade
torna-te engrenagem.



Laís Castro



domingo, 18 de agosto de 2013

O O PROFISSIONAL DA MEMÓRIA - João Cabral de Melo Neto





"A lembrança foi perdendo
a trama exata tecida
até um sépia diluído
de fotografia antiga.

Mas o que perdeu de exato
de outra forma recupera:
que hoje qualquer coisa de um
traz da outra sua atmosfera."

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Se - Tom Zé

Se
Porém
Se
Por quê?
Se
De quem?
Se
O quê?
Eu beijaria os pés
Da santa máter
E reescreveria
O seu caráter.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Aos meus AMIGOS.


Numa saudade do tamanho de um abraço.
Acordei querendo um pouco de todo mundo e um tudo de mim.
Todo nosso sorriso.  Toda a minha pele: São vocês, os desastrados.






domingo, 14 de abril de 2013

É você esse sorriso por trás do olhar tímido.
Sou na dentada da tua pele.
E mais...
Juntos
Seríamos os ponteiros do tempo.


Prepotentes.
Incalculáveis e totalmente enganados.
Reféns.




quarta-feira, 3 de abril de 2013

O preferido da ninhada





Não sei não
              [te vigiar.

Como soldados que espetam suas pernas amputadas.
Você é minha dor fantasma.
No lago que eu te vejo nadar de braçada.
Nada! Pula do balanço de pneu. Faça.

De nós
Eu tive um infarto de revés. Que aperta, aperta tanto.
Se confunde com saudade e não é.
é só medo e cicatriz. Tão feia quanto queimadura.

Essa herança de angústia ...
Você é meu filhote manco que passou por entre as grades para o imenso orquidário.





terça-feira, 19 de março de 2013

E em um dia que não importa o céu.
Você está deitado no meu colo.
Com os olhinhos sorridentes de homem, como daquele cara. E eu enrolo cada mecha porque sei onde coloca-las.

Sei então entrar na tua casa e repintar os sótãos.
 Abrir as janelas. NÃO.
Tento trabalhar com as cortinas, ecerar o chão (ainda se faz isso?).
Varro com vassoura de piaçava pelo gosto do Blasé.

Não gosto de café, mas te faço litros.
Gosto do cheiro teu quando encontra a xícara.

Aí deita, para enrolarmos mechas, olhos e lençóis.
 Acaba com tudo.
 Quem se importa?
Pano se lava, sexo não.


Dos meus segundos de paz suprema, abro os olhos.
E continua não me importar o céu.

Mas nunca estás no meu colo.
Está ao meu lado.
Com uma mão procura uma chave.
Inútil.
Ela está no meu bolso. Enquanto eu remexo a fechadura do portão.
E lá, de mãos dadas, olhando para os lados ...
 Quem quer entrar? Quem quer atravessar?

A solidão é tão autodidata.
O amor tão disléxico.
E sempre nos restam 24 horas.






Laís Castro

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

1.1

_Escrever o que se está vazio?

...sentimento comparado. cabelinho atormentado...


_A beleza em ser ninho de passarinho no verão é : sempre ter começo, meio e fim.




Laís Castro

absurdo sensorial

Talvez o que se passe em transe seja o reflexo de todos nós.
De um esforço, não intimo e prazeroso a todos os mortais.
De quando é vazio e não se quer
ou
de quando é tão cheio que não se basta.
e TUDO cabe no teu gemido.



Laís Castro



"A gente se olha
Se beija se molha
De chuva, suor e cerveja" Caetano Veloso

escorre



Significado de Ansiedade

s.f. Angústia, aflição, grande inquietude.
Desejo veemente, impaciência, sofreguidão, avidez.
Medicina Estado psíquico acompanhado de excitação ou de inibição, que comporta uma sensação de constrição da garganta.


Um soluço 
Espalhafatorto.
em toda alma e todo o beco.
à extensão de unha e ponta de dedo.
me Desaquieta, descabela, desalinha, dissabora.
Só não me diz que vai embora!



ansiedade é um desespero lento feito de tempo líquido na palma da minha mão.




Laís Castro

domingo, 20 de janeiro de 2013

no silêncio de saguão de cada igreja...




E quando há muito espaço: tudo cabe ou tudo falta?