terça-feira, 28 de outubro de 2008

Morte e Vida Celestina


Se Deus tivesse me convidado pra uma convenção ao invés de simplesmente criar o humano, diria a ele:"No lugar do coração deveríamos ter bússolas". As mais precisas e perfeitas. Que pudessem ser inventadas. Assim os caminhos errôneos seriam puro fruto da incompetência dos astros de traçar o meu destino. Iria lhe dizer que deveriamos ter esfíncteres no ouvido. Assim não existiriam tantas úlceras causadas pela fala das pessoas que pouco dizem. Diria a Ele que os ombros deveriam ser largos para todos. E não sinal de evolução daqueles que aguentam o tranco. Pediria que os amores fossem guardados nos fios de cabelo, presos a nós é verdade, mas indolores ao ruir e embranquecer. Lhe aconselharia no entanto não me ouvir de modo algum. Loucos somos nós que com dois olhos e um corpo precisamos ver a beleza gritar para aprecia-la. Sabio Deus que nos fez humanos.


Laís Castro


segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Clima de Relatividade


Quando o tempo está fechado, o bom é esperar a chuva.
Não saber quanto tempo o sol vai se acovardar atrás das nuvens ...
Sentir o cheiro da chuva.
E toda nostalgia inevitável.
Sentir aquela preguiça, e a vontade de morar entre os lençóis.
Dias frios nos arrastam para a cozinha, precisamos agradar o paladar.
A televisão sempre nunca interessante, vira palco para o tédio gostoso.
O céu nublado torna o ócio atrativo
Dias como estes passam muito devagar.
Embora sejam tão serenos e deliciosos ... anseio os calores de verão.
Noites quentes nos refrescam com o sereno, com amigos... que espantam a solidão
As semanas de verão passam depressa demais, e eu preciso que eu o tempo passe. Preciso.
Laís Castro

sábado, 11 de outubro de 2008

Portuários


"Acontece que a donzela - e isso era segredo dela Também tinha seus caprichos E a deitar com homem tão nobre Tão cheirando a brilho e a cobre Preferia amar com os bichos" Geni e o Zepelin, Chico Buarque.


Tomásia, era o nome no anúncio de Jornal, dizia-se morena de olhos chamativos, experiência vasta apesar da pouco idade ... Longas pernas, foi o que me fez chama-la. Esperei exatos 34 minutos, não sabia exatamente o tipo de recepção que se dá a uma puta contratada, quando finalmente chegou. Como era feia a coitada! Tinha longas pernas, e tudo mais que dizia o anuncio ... mas tinha no olhar um pedido de ajuda. Não tive a mínima coragem de consumi-la. Pedi então que se sentasse, ela me disse: _ Você não é o primeiro, estou ainda nos primeiros dias, não pense que eu já tive anos melhores, os quais eu era a melhor puta da cidade, sempre fui isso aqui, o que sobrou da noite, com marcas sim - mostrou-me uma mancha que estendia-se do abdomen até o baixo ventre-não faça essa cara de que não me despreza, é tudo que você possivelmente vai conseguir, se não estivesse tão desesperado não teria ligado não é mesmo? Você é tão baixo quanto eu, são cães assim comparaveis a você que me sustentam, decepcionam-se com a puta feia, mas se lambuzam com elas e ainda acham -se vitimas de propaganda enganosa. -bufou em sinal de alivio- Do que você quer que eu te chame? Nesse momento ela já ia tirando o casaco e perguntando várias outras coisas que eu não saberia mesmo responder, estava atordoado com todo aquele discurso, se eu quisesse uma análise comportamental não teria trocado meu analista por uma garrafa de conhaque, e essa tal mulher era mais uma tentativa de comprar meu refúgio em um falso prazer. Olhei as paredes e como de repente minha própria casa tinha até mesmo o cheiro característico do surreal. A confrontei: _Não sou como você. Puta! Quem lhe dá o direito de me insultar? Você é só mais um produto achado no mundo que veio a servir meus caprichos. Cansei de mulheres me dizendo quais meus defeitos ou qualidades, nunca precisei disso, posso muito bem me virar sozinho, sem essa .. qual é mesmo o nome da palavra... Intimidade. Tomásia baixou os olhos , falou num tom de voz doce: _Intimidade foi tudo que eu nunca tive, a vida toda cacei a sombra de um respeito que nem eu nunca me dei, fui a pior de todas as covardes fugi para tão longe de mim mesma que quando tentei retornar... achei a noite, e a sua mesma garrafa de conhaque, só que a minha tinha o nome Coragem. Virou-se com os olhos cheios de lágrima, não quis pagamento saiu apressada. Tomásia foi a primeira mulher que eu não amei. Tomásia foi minha âncora para a realidade da solidão auto-sentenciada.



Lais Castro

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Sistema


"Se ela te fala assim com tantos rodeios isso
é pra te seduzir
e te ver buscando o sentido
daquilo que você ouviria displicentemente.
Se ela te fosse direta, você a rejeitaria" ... Sentimental



Uma Coleção de corações apaixonados
Uma coleção de frases feitas
Uma coleção de sorrisos únicos
Uma coleção de amores designados
Minha coleção que não preenche álbum algum.



Laís Castro

Um Esforço nada Osmótico


O convite era muito original, vinha pelo olhar.
Tomar coragem:
4 doses para como Gilda dançar.
Bailarina, musica adentro, rodopia.Um.Dois.Tres.Plie
Percussão vermelho sangue, pulsante e inqueto.
Não havia mais motivos pra fingir
Meiguice já jogada num sofá
Os olhos?Estes já nem sabiam mais qual o rumo tomar.
Mais apertões.Calma.Só para animar.
Sentimentei.Sinestesiei.Sentei.
Pontapé na porta, alegria que enche a festa, transbordam os convidados.Sorri
Pisca-Pisca,abro os olhos.Suspiro, me aninho e durmo.
Já não pude mais fugir.



Laís Castro

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Noite de Primavera


Era Outubro e ainda fazia frio, causava estranheza poder desenhar no vidro com os dedos quentes. A garrafa de vinho se acabou, como sua boca estava sedenta. Os 2 ultimos cigarros, eram sobreviventes no maço. Sem preocupar-se com cabelo ou maquiagem saiu, no pescoço o cachecol. Buscando algum lugar, quem sabe mais quente para assisitir o fim da noite.
Era a hora que mais gostava, estavam sob o sereno apenas os boemios, as putas, e os casais saindo recém satisfeitos de seus motéis de 4 rodas.Cada um assumindo sua essencia medíocre, e era lá, nesse instante que se sentia comum...comum. E era uma ternura lembrar o cheiro de amêndoas, lar. Aconchego.
A rua ia se acabando, e o seu rosto iluminou-se do neon do letreiro, ainda estava aberta a loja de bebidas do Velho Indiano."Boa noite". O velho apenas levantou a sobrancelha esquerda, pequeno sinal de respeito. Ela se voltou a geladeira, pegou o vinho,o maço, e um chocolate.Quando saiu, parou a frente da lata do lixo, viu passar o primeiro ônibus do dia. A noite ia acabando e a ternura de achar tudo tão "amêndoas" passou do mesmo modo.
Voltou pra casa,jogou-se no sofá.Amanhã ainda era dia de trabalho.
O sol entrou esmurrando-lhe a cara, mau humor sentou na sua poltrona. Olhou a janela, vestiu a camiseta. I´LL ROCK YOU. Um chapéu, a boca vermelha e Amanda. Aproximou-se do beco, bateu 3 vezes na porta verde musgo. O negro abriu a porta, identificou-se Victor. Sorriso de canto de boca, mostrou-lhe o olho comprido de Amanda, disparou 3 vezes. Acabou, só ela e fumaça : Amanda e cigarro. No canto do apartamento, O cachorro.Chamou-lhe Saga.Na próxima noite o Velho Indiano lhe venderia um vinho e um biscoito.
A solidão havia finalmente decido pelo Ralo.


Laís Castro