segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Moiras, as três jovens velhas do meu fio de músculo.

A primeira tinha os olhos.
Por onde sonhava um mundo. Um mundo inteiro, em trevas e em cores. Em uma língua doce de serpente. Me fez descobrir que cobras não matam em abraços porque não tem ossos para serem quebrados, uma estranha empatia por inocência. Como conhecer a dor do abraçado sem poder sentir a dor dele se tudo que a fazia viva eram as dores. Imaginárias ou não. De maneira a honrar sua partida, ela as comia. As vítimas, os amores e vomitava seus ossos numa espécie de luto profundo que nem tudo desaparece, pelo contrário, já parou para pensar o que de fato não fica?


A segunda tinha os dentes.
E sorria e mordia com a mesma crueldade. De si ficava sempre a hemorragia. Um estranho poder de controlar o tempo não a fazia menos perseguidora dele. Ela brincava de pique-pega com o destino, esperando que os astros, elementos e o que lhe fosse oferecido pelo Universo lhe desse uma pista de como de fato lhe seduzir. Tarefa estranh, árdua e poética. Lhe moldou única com o dom do abraço porque conhecia que a gratidão lhe era dada como licença da vida e da dor. Poucos sabiam mas a dura pena de se saber mortal mas amiga do tempo a fazia ser menos comum que desejava e mais especial do que aguentava.


A terceira tinha a tesoura.
O poder de cortar ou manter, ela sabia que a única chance de um fio não arrebentar em sua luta contra si era o poder do material, não de si. Uma força da natureza ela era, mesmo não sendo de fato natural. Aquela a quem o destino devia se abaixar porque de tão forte só se rebaixava mesmo ao peso de uma coisa rara como o ouro.  Pois toda vez que pegava seu instrumento de ferro lembrava-se que sua alma é de musgo e nada mais podia ser mais vivo e mole que seu sentimento. Um passarinho bonito com o canto feio que não sabia ciscar.

E eu as amava
Eu as amo
Eu as sempre vou amar


E eu que todo esse tempo achei ser o fio, era de fato a roca.
Produzindo um destino. Que só mesmo poderia ser meu, tocado por mãos de uma conduta mas que fatalmente repousa no chão ... e se utiliza na roupa invisível do rei tolo ou vira mesmo a canção entoante da vida de uma heroína capaz de se salvar porque para se chegar ao inferno deve-se vencer a terra.

Saibam minhas velhas, de uma vida que existe e existiu e existirá. Não serão mais tecelãs mas mitologia de uma Era eterna, pois eu só vivo essa vez.


Laís Castro