terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Desesperado

   "Socorro, alguma alma, mesmo 
que penada,
Me empreste suas penas
Ja nao sinto amor
nem dor,
Ja nao sinto nada
Socorro, alguem me de um

coracao,
Que esse ja nao bate nem apanha
Por favor, uma emocao pequena,

Qualquer coisa
Qualquer coisa que se sinta,
Tem tantos sentimentos, deve ter
algum que sirva"
Arnaldo Antunes



Suor escorrendo a testa, os lençóis enxarcados, uma dor alucinante, estomago. Todo o aparelho digestivo concentrado na garganta, nem o grito mais saia, nem voz, nem sopro, nem vento, nem ar. Batia a cabeça com força,força,força e nada, a dor não passava, sua garganta mais e mais se fechava, bateu a mão na parede e foi levado ao hospital. O médico era feito de escamas, uma lama fedorenta deixava suas mãos geladas e macias, nem mesmo o vômito saiu de sua garganta, o médico abriu-lhe a boca, as entranhas estavam arrumadas em nó. Fechando tudo, não se tinha o que fazer ... morte certa. O médico só poderia alivia-lo. Bisturi na mão abriu-lhe o peito, uma imensa bola negra saltou, avançou, como se quisesse decepar o doutor. O fétido médico apertou os olhos lazarentos, desafiou a escuridão, puxou-a de dentro do peito do paciente, fez um corte preciso e tirou de dentro da sombras um coração. De tanta marca negra o coração era pequeno e fraco, sobrou em volta um espaço, um vazio, um buraco, um nada, espaço inválido. O paciente saiu curado, sem dor, sem voz, sem sopro, sem ar, apenas com o buraco vazio e inválido, saiu pálido, saiu assim como eu agora estou diante de um olhar qualquer.





Laís Castro

2 comentários:

João Paulo Rotelli disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Paulo Rotelli disse...

na falta do que comentar: muito bom.