Olhei para cima.
Olhei para o lado.
Já tinha parado de arder, podia respirar.
Mas veio outra onda, e outra, e outra.
Voltou a arder, a água, o sal, o ar.
Até fui levada para a praia.
Quando cheguei lá, percebi que tanto tempo havia passado que a única coisa que eu sabia fazer era nadar.
Estava segura, mas precisava voltar.
Colocava um pé e tentava entrar.
Caixote na cabeça.
Tinha que voltar a areia.
Daí olhei pra cima. O céu estava meio cinza.
Daí olhei de novo, e continuava cinza.
E ele continua cinza, ás vezes chove. Mas eu fujo da água.
A gente já tem 70% disso no corpo, e sempre precisamos de mais.
E eu entendi, que não me deixar ser 100% de água era não me afogar.
Não era por medo.
Não era comodismo.
Não era desespero.
É o que eu tinha que fazer, o que eu podia, o que eu dava conta.
Quem pode dizer que minha luta não foi genuína?
Fiz meu travesseiro de areia da praia.
É frio.
É desconfortável.
Mas é seguro, é meu.
E vai ficando como sou, sabe-se lá onde vai dar.
Algúém deveria perceber que os 100% são meu máximo sinal de solidão.
Nunca serão de ninguém.
Nem mesmo dos maremotos assassinos de qualquer mar ....
Te encher aos 100% seria te afogar, e isso eu não suportaria.
E no mais?
É isso.
Tá tranquilo.
E fim.
Laís Castro
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